Diálogos – Tathina Braga https://tathinabraga.com Thu, 21 Nov 2024 15:12:35 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 O quarto ao lado – vida e morte https://tathinabraga.com/o-quarto-ao-lado-vida-e-morte/ https://tathinabraga.com/o-quarto-ao-lado-vida-e-morte/#respond Thu, 21 Nov 2024 13:59:15 +0000 https://tathinabraga.com/?p=7722 Não tratarei aqui da sinopse do filme ou tenho pretensões em avaliar o caráter técnico cinematográfico, mas o que me interessa, além da arte, que para mim são os efeitos das imagens e temáticas levantadas em mim, é de quais sentidos e o que ele comunica. (O que não impede que você possa comentar sobre os aspectos técnicos abaixo). Quero conversar aqui sobre algo mais além, e algo distinto talvez do que se lê em críticas de filme usuais.

O que me levou ao filme inicialmente foi Almodóvar, sim, gosto do diretor e suas cores. A segunda questão foi a pergunta: se você pudesse escolher não sofrer na morte, seria uma opção? Essa é uma das temáticas levantadas no longa. No entanto, tenho lido sobre ser um “tema difícil”, referindo-se a forma como Almodóvar trata o direito de eleger como morrer. Bem, depende do ponto de vista. Como falar de morte e direito à morte humanizada em uma sociedade ocidentalizada? Quero dizer, uma sociedade que assumiu a cultura de uma hegemonia branca e suas afetações sobre viver e morrer. O ponto vista para o mundo e humanidade tem uma lógica de padronização, como se só existisse uma forma de enxergar o mundo, e ela é branca e heteronormativa .

 Quando pensamos nas culturas afro centradas ou indígenas há outros sentidos entre vida e morte, já que a linearidade da vida segundo filosofia africana, por exemplo, não pensa em finitude, mas a vida como ciclo de começo, meio e começo. Não se trata de qual melhor ponto de vista, mas apenas de formas de enxergar distintas. Então tudo depende de um referencial.

E o ponto referencial de “mirada” é de um olhar branco, não de cor da pele apenas, mas eurocentrado, ou seja com todos os privilégios que alguém pode ter quando se trata de bem estar. Então não basta viver uma vida digna, mas também escolher não esperar a morte, ainda que utilizando de produtos ilegais (falo já sobre isso), em uma casa (mansão) maravilhosa em um lugar lindo. Esse é outro ponto importante para se ter em mente.

Mas além dessas questões considero sim audacioso o plano do diretor colocar em questão sobre o direito à morte humanizada (pensando aqui a eutanásia) tendo em vista que o faz justamente no âmbito da branquitude. Além disso, também flerta em certos momentos com uma discussão sobre proteção ambiental, ou salvar o mundo, um mundo que possamos viver e colocar em outro lado os que querem morrer. Aqui, acredito ser dois lados de uma mesma moeda, sobre defesa da vida, pois quando se levanta essa bandeira pensamos em dignidade, bem estar e cuidado com o próximo e consigo, o que não difere da temática da eutanásia.

Nessa miscelânea temática Almodóvar fez sua crítica pontual aos defensores da vida, que aqui entendemos que é totalmente diferente de quando falamos sobre defesa ao meio ambiente e da dignidade da pessoa humana. Estamos falando sobre a imposição de uma normativa cristã do que se entende por defesa da vida. Novamente entra aqui aquilo que pontuei lá em cima, tudo é uma questão de ponto de vista. E esse segue uma lógica muito mais de controle sobre as vidas e os corpos. Para retratar essa discussão o diretor utiliza-se de um representante do estado, que taxativamente aponta como crime tirar a própria vida, assim como aqueles estados que apontam ser crime decidir não continuar uma gestação.

O filme nos remete a uma reflexão sobre vida e morte sem julgamentos, a pensar no que é justo tendo em vista condições tão subjetivas. Portanto, não se trata sobre certo ou errado, bom ou ruim, mas novamente sobre perspectivas. E para além disso, para mim ao menos, me levou a pensar: que formas de viver ou morrer poderiam ser possibilitadas para as pessoas?

 

E você, o que acha?

 

Ah e sobre o filme, gostei médio, mas valeu a pena para ver as cores de Almodóvar.

]]>
https://tathinabraga.com/o-quarto-ao-lado-vida-e-morte/feed/ 0